O recuo contribuiu para a leve desaceleração da cesta básica na região Sudeste, que caiu 0,52% em junho, conforme dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Apesar da queda, o quilo do café ainda pesa no bolso: em oito supermercados das zonas sul e central de São Paulo, o pacote de 500 g era vendido, em média, por R$ 37,21, e o de 250 g, por R$ 20,91. Em ofertas pontuais, o meio quilo chegava a custar R$ 27,99, mas em alguns locais o preço subia para R$ 44,99.
De acordo com especialistas, o impacto real no bolso do consumidor deve ser percebido nos próximos três meses. Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe, explica que os preços no atacado já caem desde março, e essa deflação começa agora a ser repassada ao varejo.
Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas (Associação Paulista de Supermercados), confirma a tendência e aponta que a concorrência entre os supermercados deve acelerar o repasse. Em abril, o mesmo pacote de 500 g era encontrado por R$ 33,87, e o de 250 g, por R$ 18,89.
Para o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, a queda de preços deve continuar, mas ainda é difícil prever o impacto total na cesta básica. Ele destaca que outros produtos, como arroz, feijão e carne bovina, também já apresentaram redução significativa.
Mesmo com a alta acumulada de mais de 80% nos últimos 12 meses, o consumo de café se manteve estável. Segundo Queiroz, as famílias ajustaram a quantidade e a qualidade do produto, mas não deixaram de comprá-lo.
Nos bares e restaurantes, a alta do café foi menor — cerca de 30%, segundo a Abrasel-SP. Um espresso gourmet custa hoje, em média, R$ 10. Para o setor, uma redução mais significativa só deve ocorrer quando a queda superar os 10%.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) afirma que a atual retração é uma correção natural do mercado, favorecida por uma safra mais produtiva, maior estabilidade cambial e reservas internacionais em recuperação. O café conilon, voltado para exportação e cultivado principalmente no Espírito Santo, também registrou boa safra, o que ajudou a pressionar os preços para baixo.
Em junho, o preço da saca de café arábica caiu 14,4%, fechando o mês a R$ 1.834,36 (R$ 30,57/kg), bem abaixo dos R$ 2.738,95 registrados em fevereiro (R$ 45,65/kg).
Impacto do tarifário dos EUA é incerto
Apesar do anúncio de aumento da tarifa de importação dos Estados Unidos para o café brasileiro — de 10% para 50% — o impacto imediato no mercado interno ainda é incerto. Para o Cepea, a medida aumenta a instabilidade dos preços e pode afetar as exportações da próxima safra. Já a Abic acredita que o mercado interno não será afetado no curto prazo, e que haverá margem para negociação com os importadores.


























